Foi
no meu peito que ela se aninhou assim que chegou em casa. Orgulhei-me de ser a
primeira pessoa em contato com ela, aquelas 200 gramas felinas que viriam a
fazer parte da minha vida a partir de então.
Capitu,
ao contrário da personagem machadiana, não era obliqua. Mas bem escorregadia,
como pude perceber depois de quase 20 minutos tentando tirá-la debaixo do
guarda-roupas. Também não era dissimulada. Desde o início, mostrou o quão
carente e pedinte de atenção era. Olhos de ressaca não tinha, mas sim um belo
par de esferas castanho-esverdeadas. Curiosas. Atentas. Fugazes.
Tive
a certeza de que me tornara uma mamãe adotiva para ela assim que Capitu passou
a interferir na minha vida amorosa. Primeiro, subia na cama. Depois, deitava-se
entre nós. Grandes foram os sustos que ela nos pregou ao roçar-se por nossos
pés, de repente, em meio a um filme de terror - ainda bem que o filme, não ela,
era péssimo. Mãe, eu? Quem diria...
Aninhá-la
no meu colo passou a ser um dever rotineiro, assim como esperar ouvir seus
miados assim que chego à porta do apartamento. Era uma vez nosso apartamento.
Agora é dela. Apropriou-se de cada metro quadrado do imóvel de 5 cômodos, fez
usucapião do espaço e do meu coração. Um mês e já conquistou tudo isso? Pois
bem, pois bem. Capitulei-me – com o perdão do trocadilho - à ela da mesma forma que ela cede ao receber
afago no cangote.
Sua
paixão pelo balançar do molho de chaves já fez com que eu desse boas
gargalhadas ao vê-la saltando para alcança-las. Longe de ser boba, Capitu tem um
jeito desastrado que se assemelha ao meu. O jeito com que nos empreguiçamos
matinalmente é semelhante, garantem. Minha paixão por sushi talvez lembre o
gosto dela por sachê de salmão. A pirraça que faz quando alguém desagrada-a em
muito rememora minha manha habitual. Não somos mãe e filha. Somos irmãs (siamesas,
quem sabe).