A melhor e a pior parte de se
mudar é exatamente isso: se mudar. Não é só de casa, de cidade, de hábitos. É
perceber que já não se identifica quando olha para o seu reflexo no espelho.
Por bem ou por mal.
Acorda na cidade que adormece
tarde; a cidade onde o silêncio casa com a tranquilidade só depois das 3 da
manhã. Levanta, olha para o mesmo espelho e percebe que nada mudou ao mesmo
tempo que tudo não está mais tão igual quanto era antes. Caminha pelas mesmas
avenidas, mas vê as ruas com os olhos de um turista. Um turista na sua própria
cidade e também dentro de si.
Passa pela catraca. Pega os
livros. Não bebe café há uns dez anos, mas adora o cheiro e o vapor que sai das
xícaras repousadas nas classes ao lado. Ouve os discursos. Suspirar é
inevitável, quase como respirar. A cadeira dura combina com o relógio no pulso.
Os ponteiros avançam, mas a hora que não passa. Tempo e dinheiro.
Dinheiro e tempo. Quanto pessimismo! Precisamos mesmo debater Freud? Estamos
aqui, eu e você. O que custa fazermos disso algo mais agradável?
Tic tac, tic tac. O dia não
passa. Enquanto isso, a vida voa.
Volta para casa. Olha o reflexo
e sente que já não é mais um peixe fora d’água. Sim, saiu do aquário. Foi para
outro maior. Ainda não alcançou o oceano, mas por enquanto o tamanho do novo
habitat está bom.