21 de mar. de 2015

Registros de um instante qualquer...



Foi no meu peito que ela se aninhou assim que chegou em casa. Orgulhei-me de ser a primeira pessoa em contato com ela, aquelas 200 gramas felinas que viriam a fazer parte da minha vida a partir de então.
Capitu, ao contrário da personagem machadiana, não era obliqua. Mas bem escorregadia, como pude perceber depois de quase 20 minutos tentando tirá-la debaixo do guarda-roupas. Também não era dissimulada. Desde o início, mostrou o quão carente e pedinte de atenção era. Olhos de ressaca não tinha, mas sim um belo par de esferas castanho-esverdeadas. Curiosas. Atentas. Fugazes.
Tive a certeza de que me tornara uma mamãe adotiva para ela assim que Capitu passou a interferir na minha vida amorosa. Primeiro, subia na cama. Depois, deitava-se entre nós. Grandes foram os sustos que ela nos pregou ao roçar-se por nossos pés, de repente, em meio a um filme de terror - ainda bem que o filme, não ela, era péssimo. Mãe, eu? Quem diria...
Aninhá-la no meu colo passou a ser um dever rotineiro, assim como esperar ouvir seus miados assim que chego à porta do apartamento. Era uma vez nosso apartamento. Agora é dela. Apropriou-se de cada metro quadrado do imóvel de 5 cômodos, fez usucapião do espaço e do meu coração. Um mês e já conquistou tudo isso? Pois bem, pois bem. Capitulei-me – com o perdão do trocadilho -  à ela da mesma forma que ela cede ao receber afago no cangote.
Sua paixão pelo balançar do molho de chaves já fez com que eu desse boas gargalhadas ao vê-la saltando para alcança-las. Longe de ser boba, Capitu tem um jeito desastrado que se assemelha ao meu. O jeito com que nos empreguiçamos matinalmente é semelhante, garantem. Minha paixão por sushi talvez lembre o gosto dela por sachê de salmão. A pirraça que faz quando alguém desagrada-a em muito rememora minha manha habitual. Não somos mãe e filha. Somos irmãs (siamesas, quem sabe).